30 dezembro 2014

A SABEDORIA DO VENCEDOR CONSISTE EM SER COERENTE


A festa dos desalentos


Jânio de Freitas, na FSP


Ensaio da posse de Dilma - Agencia Brasil
Ensaio da posse da presidenta Dilma Rousseff. Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil
 
 
 
 
 
 
O ensaio, na tarde dominical, foi mais autêntico: não tinha povo. Para a posse, o PT providencia a ida de centenas de ônibus, há quem fale em 800 deles, que levem a Brasília forasteiros em milhares suficientes para o que deve ser uma posse presidencial petista. Mas, a poucas horas dessa posse, o PT ainda luta pelo reconhecimento ao seu direito de uma presença menos inadequada ao novo “governo petista”.
 
O PT se esvazia. Os “governos petistas” esvaziam o PT. Os “governos petistas” servem ao PMDB, proporcionam-lhe a nutrição que trouxe de volta o seu predomínio político, perdido quando o governo do PSDB entregou-se ao PFL, o hoje comatoso DEM.
 
A militância petista míngua, no corpo e no espírito. Com suas bandeiras relegadas e até contestadas pelos “governos petistas”, nas eleições a militância exibiu a que está reduzida: no seu território, São Paulo, não foi capaz de mobilizar-se, de ser parte efetiva da disputa. Não para enfrentar as dificuldades paulistas dos candidatos do seu partido à Presidência e ao governo estadual, mas para não ser, como foi, com seu alheamento, a causa fundamental dessas dificuldades.
 
Os chamados movimentos sociais sentiram os efeitos do desalento petista. Com a recusa a ser petistas nos “governos petistas”, mesmo em atitudes tão simples como prestigiar o PT no Congresso, Lula e Dilma fizeram o mesmo por modos e em graus diferentes: Lula conteve os movimentos sociais, Dilma desconheceu-os.
 
Podem ser 800 ônibus, até mais, é provável que lotados. Mas não será o PT viajando neles. É só aquela lembrança de militância petista, é uma representação da militância que não se moveu nas eleições, porque não foi reconhecida nem reconheceu os “governos petistas”. É uma presença simbólica dos movimentos sociais, imagino que saudosos de si mesmos. São pessoas que esperariam ouvir falar, quando a eleita falou do novo governo, em ainda mais empregos, em distribuição da renda subindo, subindo, subindo muito mais, e o Minha Casa, Minha Vida se completando, e os empresários sendo chamados a gastar menos bilhões em casas no exterior e investir mais no seu país.
 
Não foi o que o PT ouviu. Por certo, grande parte dos petistas e dos componentes de movimentos sociais nem entendeu o que ouviu, nas escolhas ministeriais auspiciosas para a direita e conservadores em geral. Tudo sugere que a massa dos recém-empregados e dos beneficiados pelo assistencialismo entenderá pelo método prático. É o seu método histórico de aprendizado. Mas são muito diferentes o longo não receber e o perder ganhos. Ainda assim, às vezes dão no mesmo. Às vezes, não.
 
O que não foi dito quando esperado será dito nos discursos, é o que convém aos discursos dos vitoriosos. E Dilma Rousseff é vitoriosa. À qual acrescenta uma explicação, para os que não entendem como lida com sua vitória: “Saber vencer é não ter medo de mudar a si próprio, mesmo que isso lhe cause algum desconforto”.
 
Essa, porém, é a sabedoria conveniente a quem perdeu, não a de quem venceu. O perdedor é que não deve temer a lição da derrota, e aprender com a reprovação o que deve mudar para vencer. A sabedoria do vencedor –e, nela, os valores éticos– consiste em ser coerente com o que disse e fez para obter o apoio que lhe deu a vitória.
 
 
 
(Extraído do VIOMUNDO, de Luiz Carlos Azenha)
 
 

DILMA, MOSTRA A SUA CARA

O mi(ni)stério de Dilma


Ricardo Melo, na FSP


dilma-preocupada2

A julgar pelos nomeados, o novo governo oferece um prato cheio para a oposição e vazio para o povo







Quem tem algum compromisso, ou pelo menos preocupação, com as questões sociais fica decepcionado com as escolhas para o novo gabinete. Ao lado de uma equipe econômica alinhada com a banca, a presidente Dilma fez questão de nomear gente cuja trajetória vai no sentido oposto daqueles que garantiram sua vitória.
 
Gilberto Kassab no Ministério das Cidades é uma bofetada, em todos os sentidos. Um dos políticos mais oportunistas da história recente, Kassab está irremediavelmente associado à máfia do IPTU em São Paulo, à especulação imobiliária e ao desprezo pelos interesses dos cidadãos. Não é só: o filho de Jader Barbalho, novo ministro da Pesca, tem como única credencial a derrota para governador do Estado. E por aí vai: Eliseu Padilha volta à cena, um pastor é empossado para tocar o Esporte, uma agronegocista na Agricultura. E segue o enterro.
 
Ministério técnico, bem entendido, seria uma quimera: isso não existe. Qualquer técnico está sempre a serviço de uma política. Ainda assim, mesmo considerando o tal “presidencialismo de coalizão”, haveria menus mais digeríveis do que o cardápio servido pela presidente reeleita. O simbolismo na política vale muito, às vezes tudo. Ao indicar nomes identificados com interesses que ela combateu durante a campanha, Dilma promove um curto-circuito talvez impossível de consertar antes de a fumaça aparecer.
 
Pode-se argumentar que grande parte dos ministros, na verdade, não manda nada. Diz-se também que o “núcleo duro” permanece nas mãos do PT. Falso. Mesmo que alguns dos nomeados jamais sejam recebidos em audiência no Planalto, eles fazem parte da face visível do governo. Desprezar isto não é fazer política; é cavar um fosso ainda maior em relação aos movimentos que acreditaram no discurso de campanha.
 
A receita que a presidente oferece ao público é uma mistura de crise e rame-rame. De que adianta contentar as inúmeras fatias em que o Congresso se divide? Viu-se isto com clareza nas manifestações de junho de 2013. O poder formal e a voz das ruas nem sempre caminham no mesmo sentido. Mas a segunda geralmente costuma determinar como o primeiro deve se comportar.
 
Ignorar a história é um risco capital. Não que o povo adore passeatas, manifestações diárias, greves, faltar ao trabalho ou atrapalhar o trânsito. Não! Mas ninguém consegue aguentar calado a ameaça de deterioração das condições de vida, a degradação de serviços públicos, a perda de poder aquisitivo e a piora no bem-estar da família. A estes, a maioria, “governabilidade” só interessa quando sinônimo da redução da desigualdade social.
 
É isto que mantém o mesmo partido no poder até agora. Este compromisso precisa ser renovado nas palavras e, acima de tudo, nos fatos. Mas o que se tem ouvido são notícias de aumento de tarifas, desocupações selvagens nas cidades, corte de gastos para pagar juros dos financistas e concessões conservadoras a granel. Nas páginas ao lado, porém, lê-se também que o número de bilionários no país cresceu; a compra de imóveis no exterior saltou; a taxa de lucro das empresas vai muito bem, obrigado; a corrupção grassa; e aumenta o número de investidores sedentos para aplicar dinheiro no Brasil. Mistério: quais serão os novos programas sociais? Dilma, mostra a sua cara.



(Extraído do VIOMUNDO, de Luiz Carlos Azenha)

JUNTANDO ALHOS COM BUGALHOS

Ary Fontoura e a arte do senso comum


Marco Piva, na Agência Carta Maior




Não é de hoje que artistas mostram suas preferências políticas e, a partir de sua condição pública, dizem coisas mais sérias e ajudam, bem como podem escorregar e não passarem de ventríloquos do senso comum. Parece ser este o caso de Ary Fontoura que pediu, em postagem nas redes sociais, a renúncia de Dilma Roussef. Apesar de deixar claro a que tipo de renúncia se referia, o que faz no final do texto, o ator global desfia uma série de jargões que não fariam feio na boca do mais despolitizado dos brasileiros em conversa de botequim.
 
 
Como explicar, então, que uma pessoa com longa vida profissional e a vivência do teatro, local de excelência para o exercício da cultura, faça o papel de reprodutor inocente de frases comuns? Vejamos algumas delas.  
 
(...) renuncie à falta de vergonha e aos salários elevados de muitos parlamentares (...) renuncie ao apadrinhamento político, aos parasitas, ao nepotismo; renuncie aos juros altos, aos impostos elevados, à volta da CPMF; renuncie à falta de planejamento, à economia estagnada; renuncie ao assistencialismo social eleitoreiro; renuncie à falta de saúde pública, de educação, de segurança (Unidade de Polícia Pacificadora não é orgulho para ninguém); renuncie ao desemprego; renuncie à miséria, à pobreza e à fome; renuncie aos companheiros políticos do passado, a velha forma de governar e, se necessário, renuncie ao PT”.  
 
Ao juntar alhos com bugalhos, em nome de uma suposta indignação que teria atingido “200 milhões de brasileiros” pelo quais diz falar, Ary Fontoura perde a grande chance de colocar os pingos nos “is”. O pedido de “renúncia” à falta de vergonha e aos salários elevados de parlamentares, bem como aos parasitas, ao nepotismo e à velha forma de governar, caberiam bem numa ampla e profunda reforma política, expressão que não sai da boca do ator em nenhum momento. Esse tipo de reclamação óbvia continua quando pede a “renúncia” aos juros altos, aos impostos elevados, à volta da CPMF, combinando com a “renúncia” à falta de planejamento, à economia estagnada. Mais uma vez, nenhuma palavra, sequer um miado, sobre a estrutura econômica vigente no Brasil há décadas, há séculos, e que para ser enfrentada exige exatamente um tipo de governo que ele não quer, embora nos anos de chumbo tenha flertado com a rebeldia de esquerda.  
 
Merecem destaques as “renúncias” ao assistencialismo social eleitoreiro (bolsa-família, é claro), ao desemprego (onde ele vê isso, não sei), à miséria, à pobreza e à fome. Certamente seu olhar não passa do morro do Corcovado ou da ilha da fantasia Projac, onde aluga, como qualquer trabalhador, sua mais-valia às Organizações Globo, o maior conglomerado de comunicação brasileiro e que amealhou bilhões em verbas federais de publicidade entre 2000 e 2013. Cabe aqui, literalmente, a frase que se tornou popular nos discursos do ex-presidente Lula: nunca antes na história desse país se combateu tanto a miséria, a fome, a pobreza e o desemprego. Mas, isso não consta na indignação seletiva de Fontoura.
 
O “grand finale” vem do seu pedido à Dilma para que renuncie “aos companheiros políticos do passado, a velha forma de governar e, se necessário, renuncie ao PT” e “se permita que a sua história futura seja coerente com o seu passado”. Muito interessante. Dê banho na criança, jogue ela fora junto com a água suja e você terá um ser limpinho e cheiroso. Ou seja, passe uma esponja em tudo o que você acreditou e acredita que esta é a melhor forma de construir o futuro. Claro que ele se refere ao futuro na narrativa da mídia conservadora, da oposição golpista e dos interesses internacionais que não suportam uma soberania brasileira ativa e altiva.
 
O governo do PT é o pior governo que já passou pelo Brasil. Resta saber para quem. Essa é a pergunta que deixo para Ary Fontoura que, se preferir, pode até interpretar no palco a sua resposta. A liberdade de expressão está garantida na Constituição. Falta agora assegurar a pluralidade de informação. Uma carta com esse pedido especial o ator global poderia enviar para a família Marinho.
 
 
Marco Piva é jornalista
 

CORRUPÇÃO RAMIFICADA

Meu médico não é assim


Roxana Tabakman, no Observatório da Imprensa



É fácil reconhecer a corrupção na cara suja de um político, no sorriso oblíquo de um cartola, no olhar distraído de um empresário rico. Décadas de jornalismo investigativo prepararam nossa percepção para saber que com frequência os ideais não são eternos e os sistemas de controle são insuficientes. Servidor público corrupto não surpreende – azar dos honestos que são muitos mais. Nenhuma área está livre de que seus representantes cometam abusos, mas a julgar pelo que divulga a mídia, a transgressão moral na área de saúde parece ser “apenas” um assunto de superfaturamento ou desvio de dinheiro nos hospitais públicos, fatos que aparecem dia sim dia não nas manchetes brasileiras. Um crime organizado que envolve a poucos, pessoas que a gente nunca viu nem verá de perto.
Na última semana do ano, porém, a imprensa começou a mostrar que os médicos corruptos não são tão poucos. A jornalista Cecilia Ritto publicou na Veja a matéria “Três stents e uma viagem“ sobre práticas mafiosas da classe médica. Basicamente, ela descreve uma prática profissional na qual as decisões não são tomadas apenas com critério científico. Se o texto da Veja parece focado nas empresas e hospitais do Rio de Janeiro, que estão sendo devidamente investigados pela Polícia Federal, fica evidente na leitura das cartas dos leitores que o caso não e único: é apenas exemplar. Sem dúvida não são os 400.000 médicos do Brasil os que ferem a ética médica; mas, seja qual for o número, são suficientes como para manter vivo o sistema. E teriam que sê-lo também para atrair mais atenção da mídia.
O poder da informação
Todos somos pacientes, porém poucos podemos escolher os médicos. Quando é o caso, e critério de seleção é a confiança que o olhar dessa pessoa de jaleco branco nos inspira. A sua capacidade não vem definida em cavalos de força como nos caso dos motores, nem sua qualidade recebe estrelas como os hotéis. As avaliações ao estilo Trip Advisor, que alguns propõem, também não resolvem o problema essencial: não temos como saber como o homem ou a mulher que cuida de nossa saúde responde às pressões indevidas. Mas, ainda assim, a mídia pode ajudar ao consumidor com mais informação.
Os medicamentos são desde sempre uma potencial fonte de riqueza para os profissionais da saúde que os prescrevem, e a escolha de um remédio ou outro atinge diretamente o bolso do consumidor – que no Brasil paga cerca de 70% dos medicamentos que se usam. Nunca é pouco dinheiro, e depois de determinada idade os aniversários se percebem basicamente pela necessidade de comprar mais remédios. Os avanços da terapêutica permitiram tornar crônicos males que antes eram mortais e a enfermidade deixou de ser algo que acontece para passar a ser algo que sempre está.
Em um país que em oito anos passou de décimo para o sexto lugar no mercado mundial de medicamentos (e há previsões que o situam no quarto, em 2016) é e imprescindível mostrar ao público como funciona o sistema comercial farmacêutico. Informar que o controle sobre a prescrição, que quantifica a fidelização dos médicos a um laboratório determinado, se faz habitualmente na farmácia (quando o vendedor registra o CRM da receita, por exemplo, ou outras maneiras mais sofisticadas). É preciso mostrar também que fórmulas de controle mais complexas estão em andamento e podem, de acordo com o uso, melhorar ou piorar a situação.
Em Brasília está se discutindo um projeto sobre as práticas de prescrição (ver aqui). A fidelização dos médicos a uma empresa determinada pode logo ter um aliado no receituário eletrônico.
No sábado (27/12), o jornal argentino La Nación publicou uma corajosa reportagem – “El negocio detrás de las recetas“ (O negócio por trás das receitas) – na qual os jornalistas Pablo Tonino e Fabiola Czubaj mostram o lado escuro do receituário. O texto indaga sobre as compensações que recebem alguns médicos por escrever um nome e não um outro. Depois de falar com 22 fontes, muitas delas off the records, os jornalistas concluíram que as especialidades mais vulneráveis são dermatologia, traumatologia, reumatologia, oncologia e urologia. Os “canetas”, como os corruptores chamam aos corruptos, recebem às vezes compensações em viagens, outras em dinheiro vivo.
Corrupção ramificada
As mentes mais brilhantes e prestigiosas são as mais influentes, e portanto podem ser as mais importantes para manter esse sistema. Na hora da apuração, fica difícil para um jornalista pensar em brigar com as suas melhores fontes – parece um suicídio profissional. Mas pode ser desnecessário, já que a procura dos culpados não deve obedecer a impulsos voyeurísticos de filmar pessoas sendo presas, mas levar a uma subsequente melhora do sistema.
Para a imprensa, essas investigações são tão difíceis de fazer como de publicar. Produzir informações sobre a prática médica exige do repórter muito mais do que saber fazer as perguntas certas. O positivo é que os jornalistas estão cada vez mais conectados, a ideia da transparência não para de crescer; e as leis, as recomendações éticas e os códigos de conduta da prática médica são mais o menos os mesmos em muitos países. Como os delitos também o são, talvez uma investigação jornalística transnacional sobre as práticas clássicas de fidelização dos médicos, que logo vai ter um aliado no receituário eletrônico, não seria uma ideia ruim.
O meu 2014 termina com a esperança de que o 2015 seja um ano em que os jornalistas de saúde vamos contar a verdade, sem fingir que foi isso o que sempre fizemos. Desejo para 2015 que possamos investigar o que todos sabemos, sem medo de brigar com as nossas melhores fontes, nem receber pressões dos editores. Que ninguém tenha medo de dizer que no ambiente médico a corrupção é ramificada e poderosa: começa nos consultórios do bairro e acaba infectando até o centro cirúrgico mais especializado.
2015 pode ser um bom ano para iniciar as boas ações.
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Roxana Tabakman é bióloga e jornalista, autora de A saúde na mídia – Medicina para jornalistas, jornalismo para médicos (Editora Summus)
 
 
 

LOUCA CAVALGADA

O mexerico de Merval sobre Dilma


Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo



Louca cavalgada
Louca cavalgada
Merval ingressou na categoria do valetudo em sua cavalgada feroz para combater Dilma.
Jornalismo, não é. É mexerico, intriga, canalhice e descaro, tudo misturado.
Em seu blog no Globo, ele trata de espalhar o boato de que Dilma está “deprimida”.
“Relatos” dizem que ela foi vista chorando.
Bem, o Brasil todo a viu chorar na cerimônia da Comissão Nacional da Verdade.
E de resto: ela não pode chorar? Merval mesmo: ele não chora nunca? Seus patrões não choram?
Merval parece obcecado com Dilma. Acorda com Dilma, dorme com Dilma, sonha com Dilma.
Dilma enfrentou uma campanha duríssima. Teve toda a mídia contra ela o tempo todo, e no segundo turno teve diante de si uma aliança que juntou de Aécio a Marina, de Eduardo Jorge ao Pastor Everaldo.
Nas sabatinas iniciais, eram todos contra ela. Como esquecer as perguntas dirigidas por Everaldo a Aécio? O que o senhor acha da corrupção do governo Dilma, senador Aécio?
Aos 68 anos, Dilma fatalmente teria que estar extenuada depois de um ano tão duro quanto 2014.
Compare com Aécio, que com menor grau de dificuldade está quase que em férias permanentes depois das eleições, e tratou que trocar uma passeata anti-Dilma que ele mesmo convocara por um final de semana numa praia de Santa Catarina.
Ao divulgar rumores, Merval contraria a regra de ouro do maior jornalista da história, Joseph Pulitzer: precisão, precisão e ainda precisão. Futricas são a negação disso. Pode ser um ato de desespero e de exaustão mental: também Merval já não é nenhuma criança. Talvez seja o momento de ele tirar férias prolongadas depois de uma guerra na qual, mais uma vez, ele saiu derrotado.
Numa grande frase, Wellington disse que havia apenas uma coisa pior do que vencer uma batalha: perdê-la.
A vitória de Dilma obviamente cobrou-lhe um preço, dadas as circunstâncias. Agora, é tempo de ela se refazer para o segundo mandato.
Se ela chorou, conforme insinua Merval, é o bom choro, o do vencedor.
É um tipo de lágrima bem diferente daquelas que provavelmente escorreram dos olhos de Aécio e de seus vassalos no jornalismo, entre os quais Merval.
 
 

28 dezembro 2014

MINISTÉRIO DE DILMA: TÉCNICO OU POLÍTICO

Como um paredão


Jânio de Freitas, na FSP (Extraído do Jornal GGN)



Nem há no Brasil grandes figuras para compor um ministério de notáveis, nem seria preciso dar encerramento melancólico a um mandato difícil, com o anúncio de uma nova composição ministerial recebida por crítica ou por indiferença. Há uma explicação para isso, que muitos podem considerar suficiente para justificar a cara do novo mandato. Mas não é.
Em vez de escolhas que fizessem esquecer a média lastimável do ministério no primeiro mandato, Dilma Rousseff deu prioridade à montagem de uma estrutura política forte, capaz de se impor em duas frentes. Uma, a do Congresso, que lhe deu quatro anos de problemas ininterruptos e custo político muito alto para cada solução. Outra, a que começa a combinar a hostilidade dos meios de comunicação, também constante e indiscriminada no primeiro mandato, e o despertar feroz da oposição. Este, ainda a se confirmar, porque dá trabalho.
O futuro ministério tem tropas mais firmes no Congresso, atendendo a quase tudo o que ali pesa, e nos Estados mais representativos na opinião pública. Mas a prioridade ao político tem outra face: é sugestiva de que Dilma não pensa no segundo mandato como uma administração de passadas largas e inovadoras, com realizações e ampliações que, por si mesmas, dariam ao governo sustentação para atravessar os quatro anos e chegar sem medo a 2018. O que se insinua é mesmo a concepção do botafoguense Joaquim Levy: investimentos e transformações sociais rebaixados para a segundona.
INDIRETOS
Com a posse agora de Luiz Fernando Pezão, estará completada uma eleição peculiar no Rio, com muitos votos dados a dois não candidatos.
É incalculável, mas importante e talvez até determinante, a massa de votos dados a Pezão --muitos esquecendo a rejeição ao PMDB fluminense e a Sérgio Cabral-- pelo desejo de duas permanências. Uma, a do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, alvo de incompreensões suspeitas ou pouco inteligentes, mas também da percepção de que seus modernizadores planos vão se impondo, na complexa luta contra a criminalidade armada. O crime continua em toda parte, mas o ambiente urbano no Rio é muito diferente do encontrado por Beltrame.
A outra permanência é a da parte do Estado em várias das dezenas de obras que o prefeito Eduardo Paes faz no Rio. Muitos componentes desse projetos cabem, por força de lei ou de fatores urbanísticos, ao governo estadual, e correram risco de continuidade se eleito um dos adversários dos peemedebistas Pezão e Paes.
A cidade está passando por transformações de uma audácia racional e formal como não via desde o histórico Pereira Passos, prefeito no início do século passado. Com outra raridade: nada do que é prioritário está em Ipanema, Leblon, Copacabana e demais Zona Sul.
AS VITORIOSAS
Quando se escreva sobre o que foi o primeiro mandato de Dilma, as mulheres que o integraram merecem um realce especial. Em comparação com o mais numeroso e prestigiado grupo dos homens, o das ministras é que foi exemplar no cumprimento dos objetivos, na sobriedade imposta às suas áreas e na discreta conduta pessoal. Mesmo Marta Suplicy, que de início confundiu Ministério da Cultura e Ministério da Costura, e logo imaginou desfiles em Paris, só voltou a ser Marta Suplicy já perto de sua antecipada saída do quadro.
As mulheres que continuem no ministério já justificaram sua presença. A novata Kátia Abreu vai se expor a uma comparação, para frente e para trás, de alto risco.
 
 

REFORMA POLÍTICA

O Petrolão e os outros escândalos abduzidos pelo noticiário

Sem reforma política e sem veto do dinheiro de empresas para campanhas, as prisões de envolvidos no escândalo da Petrobras não impedirão que mais escândalos ocorram já nas próximas eleições
 
Mauro Santayana, na Rede Brasil Atual
 
Nas últimas semanas, o Brasil tem vivido sob o impacto da Operação Lava Jato, que, em torno da qual o noticiário, na busca de uma associação ao chamado “mensalão”, batizou de Petrolão. Enquanto se eleva esse novo escândalo ao posto de "o maior da história", relegam outros episódios aos rodapés, os lançam um imenso Triângulo das Bermudas, o reduzem aos pedacinhos pelas lâminas de Freddy Krueger, os abduzem feito obra de alienígenas.
Revista nº 87: Dinheiro de grandes empresas para candidatos desequilibra a eleição, o Parlamento e influi nas decisões dos poderes
Esse é o caso, por exemplo, do "mensalão do PSDB", perpetrado, de forma pioneira, com a ajuda do conhecido Marcos Valério, durante o governo do senhor Eduardo Azeredo, em Minas Gerais.
Esse é o caso do escândalo do Banestado, de desvio de mais de R$ 100 bilhões para o exterior, no qual foram indiciados vários personagens ligados ao governo Fernando Henrique Cardoso, incluído o senhor Ricardo Sérgio de Oliveira, "arrecadador" de recursos de campanhas do PSDB, perpetrado, entre 1996 e 2002, também no Paraná, com a ajuda do mesmíssimo "doleiro" Alberto Youssef do atual escândalo da Petrobras.
Esse parece ser também o caso, do Trensalão do PSDB de São Paulo, que, apesar de ter tido mais de R$ 600 milhões das empresas envolvidas bloqueados pela justiça no dia 13 de dezembro, parece ter sido coberto por um Manto da Invisibilidade digno de Harry Potter, do ponto de vista de sua repercussão.
Seria ótimo se – hipocrisias à parte – o problema do Brasil se resumisse apenas a uma briga entre "bonzinhos" e "malvados".
Está claro que temos aqui, como ocorre em muitíssimos países, bandidos recebendo propinas no desvio de verbas públicas, atuando como "operadores" e facilitadores no trabalho de tráfico de influência, no superfaturamento e na lavagem de dinheiro e envio de recursos para o exterior.
E claro está também que existem empresários acostumados, com o tempo, a pagar ou a ser extorquidos, a cada obra, a cada licitação, a cada aditivo de contrato, pelos "intermediários" e oportunistas de sempre, e que já sofrem sucessivas paralisações, atrasos e adiamentos nas grandes obras que executam, que ocorrem devido a razões que muitas vezes escondem interesses políticos que nem sempre correspondem aos do próprio país e da população.
E padecemos, finalmente, ainda, da falta de coordenação e entendimento, entre os Três Poderes da República, em torno dos grandes problemas nacionais.
Leis, projetos e obras que são essenciais para o futuro do país, não são discutidas previamente entre Executivo, Legislativo e Judiciário, antes de serem encaminhadas para aprovação e execução, o que acaba levando, nos dois primeiros casos, a relações de pressão e contrapressão que acabam descambando no fisiologismo e na chantagem – e que afetam, historicamente, a própria governabilidade.
Na contramão do que imagina a maioria das pessoas, com algumas exceções, ao contrário dos corruptos e dos "atravessadores", os homens públicos – incluindo aqueles que trabalham abnegadamente pelo bem comum – estão muito mais preocupados com o poder, para executar suas teses, ideias e projetos, ou apenas exercê-lo, simplesmente , do que com o dinheiro.
No embate político, ter recursos – que às vezes chegam de origem nem sempre claramente identificada, pelas mãos de "atravessadores" que se oferecem para "ajudar" – é essencial, para conquistar o poder, na disputa eleitoral, e nele manter-se, depois, ao longo do tempo.
Esse é o elemento mais importante da equação. E ele só começará a ser resolvido se houver uma reforma política que proíba, definitivamente, a doação de dinheiro privado a agremiações políticas e candidatos a cargos eletivos, promova a cassação automática de quem usar caixa dois e aumente a fiscalização do uso dos recursos partidários ainda durante o período de campanha.
A gravidade da situação coloca em risco a imagem da empresas mais importante do país levou. A ponto de a defesa da Petrobras ocupar parte importante do discurso de diplomação da presidenta reeleita. Foi um recado importante de que não está fechando os olhos para a crise e de que tampouco permitirá que setores interessados na fragilização da companhia se dela de locupletem.
Mas por mais que sejam importantes, e impactantes, as prováveis prisões dos corruptos envolvidos no escândalo da Petrobras e a recuperação dos recursos desviados, se não for feita uma reforma política, de fato, elas não impedirão que mais escândalos ocorram, no financiamento de novas campanhas, já nas próximas eleições.
 
 
 
 
 
 

27 dezembro 2014

NOVO DESENHO DO MUNDO



De uma guerra fria a outra?

O estreitamento das alianças da Rússia com a China, assim como os acordos do Brics, contribuíram para configurar um novo desenho geopolítico do mundo.

 
Emir Sader, na Agência Carta Maior
 
 
 
 
 

Emir Sader


 “Os últimos soldados da guerra fria” seriam, segundo o título do livro do Fernando Morais, os 5 cubanos que agora se reuniram em Cuba, depois da espetacular operação diplomática de normalização das relações com os EUA. Teria sido virada a última página da guerra fria.

 Uma guerra fria (ou paz armada, especialmente de armamentos nucleares, o que explicava o equilíbrio relativo entre os dois campos e a impossibilidade de uma outra guerra aberta) que teve seu auge em todo o período do segundo pós-guerra até o fim da URSS. A queda do Muro de Berlim desarmou o símbolo maior da guerra fria, que seguiu tendo em Cuba sua sobrevivência, até os acordos recentes.
        
 Vitoriosos na guerra fria, os EUA acreditavam que se imporiam solitários no novo mundo globalizado. Chegaram até em pensar no bombardeio da Síria e, por extensão, do Irã. Ate que o Obama se deu conta que, nas suas próprias palavras, não conseguiu apoio para bombardear a Siria, nem sequer na sua própria família. E recordou-se que se pode fazer tudo com uma baioneta, menos sentar-se encima delas.

 E teve que aceitar a proposta russa de negociação com a Síria e, por extensão, com o Irã, na metade de 2013. Instalava-se um clima de relativa distensão nas relações entre os EUA e a Rússia.

 Até que o assanhamento da UE e dos próprios EUA com a Ucrânia levaram à derrubada do governo e a excitação pela adesão do pais à UE e até à Otan. Se esqueceram que nos acordos de capitulação do Gorbachev diante de Ronald Reagan havia uma única ressalva: que avançassem sobre o espólio do ex-campo socialista, mas preservassem as fronteiras com a Rússia.

 A reação russa não se fez esperar: com o apoio total da população local, reincorporou a Crimeia a seu território e colocou os limites para os avanços das potências ocidentais. Não demorou para a população das regiões próximas revelasse sua vontade de desmembrar-se da Ucrânia e seguir caminho similar ao da Crimeia.

 As medidas de represália econômica à Russia tiveram respostas inesperadas para o Ocidente, que levava em consideração apenas o fornecimento de gás para a Europa como arma russa. Mas Putin suspendeu compras de produtos agrícolas da Europa e do EUA, passando a comprar de países latino-americanos, levando a que países europeus jogassem fora alimentos produzidos e sem possibilidade de comercializá-los.

 A imprensa ocidental entoou gritos de guerra, chamando Obama de covarde, o próprio governo da Ucrânia diz não reconhecer a adesão da Crimeia à Rússia. Mas o que faz da nova situação uma nova guerra fria é exatamente a colocação de limites à ação dos EUA, incapazes de intervir militarmente na Ucrânia, pelas fronteiras com a Rússia recuperada em termos políticos e militares como potência.

Não se pode falar de uma nova guerra mundial, pelas mesmas razões daquela guerra fria: todos seriam aniquilados. Mas não bastam as declarações de que não seria uma nova guerra fria, porque se trata disso: da nova delimitação de dois campos internacionais de enfrentamento.

 O estreitamento das alianças da Rússia com a China, do ponto de vista econômico e militar, assim como os acordos do Brics, contribuíram para configurar esse novo desenho geopolítico do mundo no século XXI.  Já havia uma multipolaridade econômica no mundo, que fez com que países do Sul não fossem arrastados pela recessão no centro do capitalismo, mas revelassem capacidade de resistência, graças aos intercâmbios Sul-Sul. Agora essa resistência se transfere para o campo geopolítico, levando o mundo a um novo clima de guerra fria.
 
 
 

A "ELEIÇÃO" DE AÉCIO

A piada do ano atropelou na reta final: Aécio é o pior senador até para a Veja

 
 
27 de dezembro de 2014 | 11:23 Autor: Fernando Brito, no TIJOLAÇO 
napoleaodehospicio
Quero pedir, de público, desculpas ao Paulo Henrique Amorim. E ao Miguel, que publicou sobre o tema semque eu visse senão na hora de postar.
Mas não dá para deixar passar.
Quando vi a chamada dizendo que Aécio tinha sido “eleito” – é bom botar entre aspas, senão ele entra com mais uma ação judicial pedindo o cargo – o pior senador do ranking da revista Veja, achei que era gozação.
Ou que o Bessinha e suas charges tinham tirado folga de Natal e estavam sem piada.eixos-atuacao
Mas fui ver e – batata! – ele, o herói da revista, é mesmo o pior entre os 74 senadores analisadossegundo os critérios que ela própria estabelece. e que reproduzo no quadro aí ao lado.
Não que a lista valha grande coisa, mas Aécio não valer nada numa lista que não vale quase nada é quase uma demonstração matemática de que zero elevado a qualquer número é zero.
Neste caso, porém, é apenas uma prova do teorema que, antes das eleições, a gente já observava: não importava com quem, servia à direita brasileira qualquer um, desde que não fosse dar continuidade ao período da história brasileira que se iniciou em 2002.
Porque aqui não se trata de como dirigir um país.
Trata-se de enfrentar a dureza de termos um país ou  gozar do conforto e dos rapapés dados a quem nos mantenha como uma colônia.
Por isso mesmo é uma tolice a história, a que sempre apelam,  de “gestão”.
Claro que é importante saber gerir, administrar, e também  neste quesito a tucanagem leva zero.
Um governo no Brasil ou em qualquer parte do mundo deve ser eficiente, honesto e zeloso, não é isso o que faz dele de esquerda ou de direita.
Aqui, porém, precisa ser um catalisador das vontades e aspirações de um povo que ainda não acabou de se construir e de um país que ainda conserva estruturas e pensamentos coloniais sombreando sua própria luz.
O Brasil precisa de símbolos, sinais, personagens, bandeiras que nos transformem.
Não de gente que faça, apenas, funcionar “direitinho” a máquina de moer seres humanos que sempre foi este país.
 
PS. Para que ninguém duvide, reproduzo o ranking da “Veja”. Ande com a barrinha até o final para ver a nota do “Varão das Alterosas”