19 agosto 2014

INTERFERÊNCIA EXAGERADA DA MÍDIA NAS ELEIÇÕES

As eleições e a mídia


Marcos Coimbra, na Revista CartaCapital





Na próxima terça 19, com o início da propaganda eleitoral na televisão e no rádio, entraremos na etapa final da mais longa eleição de nossa história. Começou em 2011 e nossa vida política gira em torno dela desde então.
A batalha da sucessão de Dilma Rousseff foi iniciada quando cessou o curto período de lua de mel com as oposições, no primeiro ano de governo. Talvez em razão do vexame protagonizado por José Serra na campanha, o antipetismo andava em baixa.
Durou pouco. Na entrada de 2012, o clima político deteriorou-se. As oposições perceberam que, se não fizessem nada, marchariam para nova derrota na eleição deste ano. Ao analisar as pesquisas de avaliação do governo e notar que Dilma batia recordes de popularidade a cada mês, notaram ser elevadas as possibilidades de o PT chegar aos 16 anos no poder. E particularmente odiosa. Serem derrotadas outra vez por Dilma doía mais do que perder para Lula.
Ela era “apenas” uma gestora petista, sem a aura mitológica do ex-presidente. Sua primeira eleição podia ser creditada, quase integralmente, à força do mito. Mas a segunda, se viesse, seria a vitória de uma candidatura “normal”. Quantas outras poderiam se seguir?
A perspectiva era inaceitável para os adversários do PT. Na sociedade, no sistema político e no empresariado, seus expoentes arregaçaram as mangas para evitá-la. A ponta de lança da reação foi a mídia hegemônica, em especial a Rede Globo.
Recordar é viver. Muitos se esqueceram, outros nem souberam, mas a realidade é que a “grande imprensa” formulou com clareza um projeto de intervenção na vida política nacional.
Não é teoria conspiratória. Quem disse que os “meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste País, já que a oposição está profundamente fragilizada”, foi a Associação Nacional de Jornais, por meio de sua presidenta, uma das principais executivas do Grupo Folha. Enunciada em 2010, a frase nunca foi tão verdadeira quanto de 2012 para cá.
Como resultado da atuação da vanguarda midiática oposicionista, estamos há três anos imersos na eleição de 2014. A derrota de Dilma é buscada de todas as formas. O “mensalão”? Joaquim Barbosa? A “festa cívica” do “povo nas ruas”? O “vexame” da Copa do Mundo? A “compra da refinaria”? O “fim do Plano Real”? A “volta da inflação”? O “apagão” na energia? A “crise na economia”? A “desindustrialização”? O “desemprego”?
Nada disso nunca teve verdadeira importância. Tudo foi e continua a ser parte do esforço para diminuir a chance de reeleição da presidenta.
Ou alguém acha que os analistas e comentaristas dessa mídia acreditam, de fato, na cantilena que apregoam quando se vestem de verde-amarelo e se dizem preocupados com a moral pública, os empregos dos trabalhadores ou a renda dos pobres? Ou que queiram fazer “bom jornalismo”?
Temos agora uma ferramenta para elucidar o papel da mídia na eleição. Por iniciativa do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, está no ar o manchetômetro (http://www.manchetometro.com.br), um site que acompanha a cobertura diária da eleição na “grande imprensa”: os jornais Folha de S.Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo, além do Jornal Nacional da Globo (como se percebe, os organizadores do projeto julgaram desnecessário analisar o “jornalismo” do Grupo Abril).
Lá, vê-se que os três principais candidatos a presidente foram objeto, nesses veículos, de 275 reportagens de capa desde o início de 2014. Aécio Neves, de 38, com 19 favoráveis e 19 desfavoráveis. Tamanha neutralidade equidistante cessa com Dilma: ela foi tratada em 210 textos de capa. Do total, 15 são favoráveis e 195 desfavoráveis. Em outras palavras: 93% de abordagens negativas.
É assim que a população brasileira tem sido servida de informações desde quando começou o ano eleitoral. É isso que faz a mídia para exercer o papel autoassumido de ser a “oposição de fato”.
O pior é que a influência dessas empresas ultrapassa o noticiário. Elas contratam as pesquisas eleitorais que desejam e as divulgam quando e como querem. E organizam os debates entre candidatos.
Está mais que na hora de discutir a interferência dessa mídia no processo eleitoral e, por extensão, na democracia brasileira.
 
 
 
 

AS GRANDES QUESTÕES

Por uma eleição mais politizada


Por Theófilo Rodrigues, em seu blog.
 
 
Marina riu no enterro. Dilma é muito sisuda. Aécio saiu bêbado de um bar em Copacabana. Marina é evangélica. Dilma é solteirona. Aécio não passa de um baladeiro…
 
Será que mais uma vez o debate político eleitoral estará reduzido às notícias dignas de revistas de fofocas? Será que estamos fadados a nunca termos de fato uma agenda de discussões da grande política, dos grandes projetos em disputa?
 
O processo eleitoral não é o único momento, mas é certamente aquele mais propício para o grande debate de ideias e de programas políticos para a sociedade. Em última instância, é o ápice periódico das formulações da esfera pública. Ou ao menos deveria ser…
 
Pouco importa as preferências pessoais, sexuais, futebolísticas ou religiosas dos candidatos. O que queremos saber é quais são os projetos de cada um, quais os conjuntos de forças políticas que sustentam tais projetos e quais serão as formas de implementá-los.
 
Qual será a política econômica de cada candidato? Pretende fazer privatizações ou aumentar o papel do Estado? Aumentará o desemprego ou irá reduzi-lo? Almeja manter as atuais taxas de juros ou baixa-las?
Qual será a política externa de cada candidato? Pretende focar nas relações de blocos, ou investir em contatos bilaterais? Manterá o diálogo com países do sul como prioridade, ou retornará com as parcerias com os países do norte?
 
Quais serão as políticas sociais? Investirá em políticas de universalização ou apenas nas focalizadas? Manterá o Bolsa Família ou acabará com ele? Respeitará as diretrizes do Plano Nacional de Educação ou as deixará de lado?
 
Qual será a política de comunicação? Investirá na Telebras pública ou priorizará as teles privadas no desenvolvimento da Banda Larga? Serão mantidos os “critérios técnicos” na distribuição das verbas oficiais de publicidade ou implementará uma política de redistribuição para a diversidade e pluralidade dos meios?
 
A participação social será considerada uma prioridade do governo? As Conferências nacionais de políticas públicas serão mantidas ou não receberão apoio do poder público? Os conselhos serão respeitados ou postos de lado?
 
Enfim, são muitas as perguntas que podem e que devem ser trazidas para o debate público.
 
Que revistas sensacionalistas e de fofocas apostem na despolitização, tudo bem. Ainda que lamentável, esse é o papel delas e não se espera nada de diferente. O que não dá para aceitar é que jornais, blogs e programas ditos jornalísticos também apostem nesse rebaixamento do processo eleitoral em detrimento do grande debate público dos projetos políticos em disputa. E essa responsabilidade não é apenas da mídia corporativa, mas também da mídia alternativa.
 
 
 
Theófilo Rodrigues é cientista político.
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EDUARDO NÃO FOI VARGAS

Deus e o diabo na Terra da Globo


Saul Leblon, na Agência Carta Maior



Há 60 anos do suicídio de Vargas, o conservadorismo reedita em farsa a tragédia. Ensaia um simulacro de catarse nacional varguista em torno da morte de Campos.


O conservadorismo brasileiro já viu o poder escorrer pelos dedos algumas vezes. Mas nunca de forma tão abrupta como há 60 anos, quando Getúlio Vargas cometeu o suicídio político mais demolidor da história em 24 de agosto de 1954.

Chocada com a morte de um governante que preferiu renunciar à vida a abdicar do mandato como exigia o cerco virulento das elites, a população foi às ruas em um misto de consternação e fúria para perseguir e escorraçar porta-vozes do golpismo contra o Presidente.

A experiência da tragédia abalou o cimento da resignação cotidiana. No Rio de Janeiro, a multidão elegeu a dedo o seu alvo simbólico: cercou e depredou a sede da rádio Globo que saiu do ar.

Carros de entrega do diário da família Marinho foram caçados, tombados, queimados nas vias públicas. Prédios de outros jornais perfilados no ultimato pela renúncia conheceram a força da ira popular.

Com a mesma manchete do dia anterior, atualizada pela fatalidade, os exemplares do único jornal favorável ao governo, o Última Hora, eram disputados nas esquinas por uma população desesperada, perplexa, em luto.

A tiragem extra de 850 mil exemplares, providenciada a toque de caixa pelo editor Samuel Wainer, sustentou a declaração premonitória de Getúlio 24 horas antes. Agora, porém, revigorada pela mão do editor: “O presidente cumpriu a palavra: ”Só morto sairei do Catete!”.

O resto é sabido.

O sacrifício impôs duro recuo ao golpismo que só executaria seu plano original de tomar o poder dez anos depois, em 1964.

Passados exatos 60 anos da morte de Vargas, o conservadorismo brasileiro reedita agora uma trama ainda mais ousada.

Construir um simulacro de catarse nacional varguista a seu favor, emprestando à justa consternação pela morte de Eduardo Campos uma dimensão histórica que ela não tem.

Assim como a de Tancredo Neves também não teve.

Ambas por uma razão difícil de abstrair: nem um, nem outro personificaram, de fato –e assumidamente– um polo da correlação de forças em disputa pelo comando da sociedade e do desenvolvimento brasileiro.

Vargas, ao contrário, encarnara um divisor real, consagrado nas urnas de outubro de 1950, de forma esmagadora, apesar do asfixiante boicote que lhe foi imposto pela mídia.

Na resposta ao cerco, a campanha de Vargas levaria uma frota de caminhões a cruzar o país munida de caixas de som e filipetas.

Em cada morada do voto fazia-se a ampla distribuição de panfletos. Neles, a promessa revolucionária –para a época– de um Brasil nacionalista e de feição popular.

Quatro milhões de eleitores deram seu voto a esse desassombro; o dobro dos obtidos pelo ‘brigadeiro das elites’, Eduardo Gomes.

Iniciou-se, então, aquilo que passou à historia como o ‘segundo Vargas’, para se diferenciar de seu primeiro ciclo no poder, iniciado com a revolução de 1930, que se estendeu pela ditadura de 37.

O ‘segundo Vargas’ criou o BNDE (sem o ’s’ ainda) em 1952; a Petrobrás em 1953, no auge da campanha ‘o petróleo é nosso’ ,e decretou um aumento de 100% do salário mínimo no 1º de Maio de 1954.

Era uma rota de colisão incontornável.

Ao mesmo tempo em que espetara as estacas necessárias à dimensão industrializante da soberania nacional, com infraestrutura, restrições à mobilidade do capital estrangeiro e expansão do mercado interno, Vargas atraía as espirais de um cerco de interesses que hoje, como ontem e sempre sonegaram legitimidade a um dinâmica de desenvolvimento inclusiva.

Só uma grosseira remodelagem da história poderá atribuir a Eduardo Campo ou a seu avatar feminino idêntica importância histórica.

Nem mesmo com sinal trocado.

Campos, antes e, ao que tudo indica, Marina de agora em diante, transitam num espaço de ambiguidade resultante do fracasso conservador em tornar palatável a restauração neoliberal no país, após 12 anos de governo do PT.

Seu candidato do peito, José Serra, mostrou-se indigesto ao eleitor por duas vezes e, por fim, ao próprio partido. O digerível Aécio Neves antes mesmo do embicar no aeroporto da fazenda do tio Múcio, bateu num teto baixo em torno de 20% dos votos, insuficiente para arrastar Dilma ao 2º turno.

A delicada operação em curso consiste em dar abrangência nacional-varguista à comoção do povo pernambucano pela perda do líder que governou o estado por duas vezes; e de transferir esse sentimento para uma terceira persona, Marina Silva, de modo a injetar competitividade eleitoral em uma quarta, Aécio Neves, e assim provocar uma segunda volta às urnas na base do ‘todos contra Dilma’.

Não surpreende que a ‘providência divina’ seja evocada para costurar esse frankenstein histórico.

Nessa alquimia destinada a produzir um adversário sobre-humano, uma junção de vivos e mortos para derrotar Dilma, caminhamos perigosamente do êxtase para o delírio conservador.

Não é preciso esfalfar neurônios para imaginar quem será o núcleo diretor dessa superprodução destinada a reeditar em farsa a tragédia de 54.

A persistir a ladainha das últimas horas, ingressaremos num degrau grotesco de manipulação da opinião pública para sustentar o que se pretende a partir de um fato gerador que não o comporta.

Glauber Rocha que entendia a força do misticismo na sociedade brasileira sem dúvida trabalhou esses elementos de forma mais complexa do que a encenação grotesca que se anuncia como realidade.

Glauber morreu há 33 anos, em 22 de agosto de 1981. Tinha apenas 42 anos de idade, mas aos 25 já havia realizado Deus e o Diabo na Terra do Sol.

O filme estrearia no Rio de Janeiro três dias depois do lendário comício da Central do Brasil e duas semanas antes do golpe de 64.

‘Deus e o Diabo’ guarda a atualidade de uma metáfora da encruzilhada brasileira, uma sociedade mergulhada em contradições estruturais dilacerantes mas sem força transformadora para efetivar as famosas ‘reformas de base’.

No filme, o vaqueiro Manoel encarna o povo brasileiro, a ‘massa pobre’, diria Glauber. Injustiçado pelo coronel para quem trabalhava,  Manoel depois de mata-lo e ser perseguido engaja-se sucessivamente na procissão desesperada do beato Santo Sebastião e no bando de Lampião.

Mas não encontrará  redenção nessas manifestações primitivas de rebelião, que Glauber valorizava como uma ruptura com o racionalismo bem comportado e inócuo diante da opressiva ordem dominante.

O cinema do premiado diretor de ‘Terra em Transe’, porém, não hesitava também em denunciar os limites dessa chave alternativa,  expondo-a no paradoxo de uma estética aflitiva na qual os personagens parecem presos ao chão enquanto a câmera se move vertiginosamente ao seu redor.

Deus e o diabo se confundem na terra  do sol, parece nos dizer Glauber. A figura dilacerada do jagunço Antônio das Mortes, talvez o personagem matricial da sua saga, dividido entre a consciência social e a obrigação pistoleira, é a síntese dessa tragédia.

Mas nem tudo é ambiguidade. Pelo menos isso o cinema de Glauber, deixou claro em relação ao país: ‘Deus nos deu  a vida;  o Diabo inventou o arame farpado’, dizia .

A farsa em curso nos dias que correm visa justamente embaralhar esse divisor.

Quer  vender  arame farpado como sinônimo de redenção da vida brasileira.

A ver.



O DESTINO DO PSB

Sem bola de cristal

Janio de Freitas 

Quantos dos candidatos a governador comprometidos com Eduardo tenderiam a apoiar de fato Marina?

São tantas as variações possíveis, entre a solução para substituir Eduardo Campos e os desdobramentos disso nos arranjos políticos e no eleitorado, que as muitas especulações a respeito não alcançam nem o mais leve sentido. Mesmo os negociadores e outros interessados diretos estão no escuro, à falta de indícios para orientar as decisões.

Só alguns exemplos, entre tantos disponíveis. Quantos dos candidatos a governos estaduais comprometidos com Eduardo, sobretudo os não filiados ao PSB, tenderiam a apoiar de fato a campanha de Marina Silva? Mesmo sem vitória, que perspectivas a Rede, de Marina, ofereceria para o crescimento desejado por seu hospedeiro PSB? Até onde a Rede, fortalecida, prejudicaria as eleições pretendidas pelo PSB para o Congresso?

Decisivo em muitos sentidos, até o potencial de Marina é obscuro. Quem adota como indicador o seu desempenho na disputa passada, imagina possibilidades otimistas para agora. Mas a decepcionante transferência de apoios para Eduardo Campos e a queda da própria Marina, nas últimas pesquisas em que recebeu sondagem individual, jogam mais do que interrogação sobre aquele otimismo.

Algumas respostas preliminares podem vir de pesquisas nos próximos dias. Mas o básico para percepção do novo quadro, como já se tinha na formação anterior de forças e tendências, precisará de mais tempo do que os donos de bola de cristal suportam. Os indícios aproveitáveis não virão deles, como sempre, até por estarem fazendo mais política e torcida do que outra coisa.

Previsto para depois de amanhã, o início do horário eleitoral é o que de mais claro se pode ter de imediato: é provável que logo dê ideia da musculatura com que cada campanha entre no jogo duro. Mas, nessa indicação, também um defeito comprometedor: o programa forçosamente improvisado do PSB, com ou sem Marina.
 
 
(Extraído do ESQUERDOPATA)
 
 

OPORTUNISMO E HIPOCRISIA

Verdades e mentiras no debate eleitoral


Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa



A entrevista da presidente Dilma Rousseff ao Jornal Nacional, da TV Globo, na sequência das apresentações de candidatos ao Planalto, ocorrida na noite de segunda-feira (18/8), deve ser contada como um ponto favorável ao seu propósito da reeleição.
Talvez intimidados pelo fato de terem que confrontar a presidente no Palácio do Planalto, e não na bancada onde pontificam diariamente, os jornalistas William Bonner e Patrícia Poeta tiveram um desempenho menos assertivo do que haviam apresentado nas sabatinas anteriores, quando pressionaram os candidatos Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB. A série, que foi interrompida na quarta-feira passada (13/8) com a morte de Campos, vinha sendo considerada pela imprensa como um ponto de inflexão, ou, pelo menos, um ponto crítico no trajeto das candidaturas.
No primeiro programa, os dois apresentadores colocaram contra a parede o ex-governador Aécio Neves, questionando o aspecto ético envolvido no uso privado de um aeroporto construído com dinheiro público quando ele governava Minas Gerais. Na segunda entrevista, foi a vez de Eduardo Campos se submeter ao quase interrogatório, mas se saiu melhor que seu antecessor, mesmo tendo que se explicar sobre a nomeação de sua mãe para um cargo vitalício no Tribunal de Contas da União.
O trágico desaparecimento de Campos, no acidente de avião que ocorreu na manhã seguinte, quebrou o efeito comparativo que se poderia fazer entre os três candidatos diante dos dois jornalistas.
Bonner e Patrícia Poeta não aliviaram também para a candidata à reeleição, mas perderam o comando do tempo diante da serenidade com que ela enfrentou as duas primeiras questões. A presidente Dilma Rousseff usou a seu favor o prazo rígido determinado para cada entrevista, e impediu que os entrevistadores ficassem com a última palavra.
Um balanço da série pode indicar que ela se saiu melhor que seu oponente mais próximo, o candidato do PSDB, mas a nova configuração da disputa, com a entrada da ex-ministra Marina Silva no lugar de Eduardo Campos, cria um contexto que precisa ser analisado com cautela.
Oportunismo e hipocrisia
Nas edições de terça-feira (19/8), os três jornais de circulação nacional ainda estudam os números da pesquisa de intenção de voto feita pelo Instituto Datafolha logo após a morte do candidato do PSB. Embora os analistas da imprensa afirmem que a ascensão de Marina Silva, que aparece com mais eleitores do que Aécio Neves, determina com mais certeza a necessidade de um segundo turno, alguns elementos importantes podem estar dizendo o contrário.
Como se sabe, previsões sobre resultados eleitorais só têm algum valor se forem contextualizadas em relação a outros fatores de decisão relevantes no período das consultas. Esse fatores podem ser circunstanciais, como o estado de comoção que se seguiu à morte trágica de Eduardo Campos; conjunturais, como uma crise ou uma percepção de desconforto na economia; ou estruturais, como a persistência de dificuldades crônicas que causam mal-estar a um grande número de cidadãos.
Tais elementos não são necessariamente captados em coletas de intenção de voto, mas podem ter grande influência nas respostas. Além disso, impõem uma leitura cuidadosa dos indicadores obtidos. Por exemplo, quando se escrutina os índices de aprovação de um governo, é preciso levar em conta o contexto comunicacional que o envolve: se esse governo é constantemente bombardeado por críticas da mídia, parte das respostas com valores como “regular” ou “médio” devem ser tomadas como avaliações positivas. Portanto, o índice de aprovação do atual governo é bem maior do que os 38% de “ótimo/bom” apresentado pelo Datafolha.
O quadro político que se iniciou com as primeiras entrevistas de candidatos ao telejornal de maior audiência – e foi impactado pela morte de Eduardo Campos – se consolida num contexto em que a aprovação do governo de Dilma Rousseff se apresenta em recuperação. Nesse cenário, o ingresso de Marina Silva na linha de frente da disputa pode exercer um impacto menor do que fazem crer os analistas da imprensa. Ela terá pouco tempo para fazer o eleitor entender sua proposta de mudança nos paradigmas da política. Além disso, o interesse da imprensa na ex-ministra é apenas oportunismo hipócrita: em conversas privadas, ela é motivo de chacotas preconceituosas por parte de editores e colunistas de jornais.
 
 
 

15 agosto 2014

IMPRENSA SEM COMPOSTURA

O mau gosto e a indiscreta excitação da
mídia com a morte de Eduardo Campos


Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual



Quem teve estômago forte para ver as manchetes dos principais jornalões, e o entusiasmo incontido de alguns de seus colunistas e chargistas, percebeu a dose de satisfação diante da morte de Eduardo Campos – ante a possibilidade de mudanças no cenário eleitoral.
As candidaturas de oposição estavam estagnadas nas pesquisas eleitorais. A chance de a eleição ser resolvida no primeiro turno crescia, com a entrada do horário eleitoral na TV, já que a coligação em torno da presidenta Dilma Rousseff dispõe de maior presença na TV. A possibilidade da entrada de Marina Silva na corrida presidencial causou excitação nas redações alinhadas à oposição, por surgir como um fato novo que pode causar alterações no cenário eleitoral.
Com a tragédia da morte do terceiro colocado, Marina desponta como candidata natural da coligação liderada pelo PSB, mas há resistências internas. Campos representava expectativa de poder para o PSB e de crescimento do partido. Se não vencesse em 2014, se projetaria como nome forte para 2018. Marina representa outro projeto, de seu próprio partido, a Rede Sustentabilidade. O PSB de protagonista na coligação vira coadjuvante.
Sob esse ponto de vista, a candidatura deixa de ser tão natural assim. Se Marina perder, o PSB corre o risco de sair da eleição menor do que entrou. Mesmo se ganhar, não comandará o governo, ficando no papel de base de apoio que já exerceu nos governos Lula e Dilma. Romper com o governo Dilma para lançar candidatura própria tinha uma lógica. Para apoiar outra candidatura de terceiros, há pessebistas que perguntam se não seria trocar seis por meia dúzia. Há dois caminhos a escolher: lançar Marina Silva ou escolher outra liderança fiel ao projeto do PSB para fortalecer o partido, demarcando posições.
Enquanto o PSB não se define, até por respeito ao tempo de render homenagens Campos, a mídia tradicional deflagrou campanha aberta por Marina Silva.
A Folha de S.Paulo estampa em manchete principal de primeira página que "Família de Campos quer candidatura de Marina". De fato, o irmão do ex-candidato, Antônio Campos, escreveu uma carta aberta, defendendo essa posição pessoal e como membro do PSB. Mas é questionável se, entre dezenas de declarações, a família gostaria de ser retratada como articulando candidatura antes mesmo do reconhecimento do corpo, como mostrou na manchete. Certamente, se consultada, preferiria uma manchete que homenageasse o legado e qualidades pessoais de Campos.
Mas nenhum jornal superou a O Globo, pela exploração política da morte e pelo mau gosto. Na manchete principal procura incitar seus leitores com uma interpretação deturpada e venenosa. Diz "PT pressiona para rachar PSB de Eduardo Campos". No subtítulo diz que "Lula e Dilma ligaram para presidente do partido, ligado a petistas". Não há nada no texto da notícia que indica ter havido qualquer tipo de pressão, a não ser a livre imaginação de quem escreveu.
Telefonemas entre pessoas, seja para condolências, seja para colocar-se à disposição, seja para simplesmente conversar com quem tenha afinidades em momentos de perplexidade, são normais, e nos meios políticos não é diferente. A própria Marina Silva deve ter feito seus telefonemas. Certamente o candidato Aécio Neves (PSDB), também fez telefonemas a lideranças do PSB com quem tem afinidades; Geraldo Alckmin deve ter conversado com seu vice do PSB, e nem por isso caberia uma manchete "PSDB pressiona..." O que não é normal é um jornal que deveria ser sério e fiel aos fatos fazer coisas que só marqueteiros fazem em campanhas eleitorais quando apelam para a baixaria.
Mas O Globo não parou na manchete. Se esmerou também no mau gosto da charge da capa. Colocou Marina Silva com olhos azuis (a cor dos olhos de Campos), soltando lágrimas que atingem Aécio e Dilma assustados, com o título "E de repente, olho azul é a cor mais quente para candidato a presidente!" Sem graça, de mau gosto, inconveniente, fora de hora e panfletária.
Desde que a mídia tradicional adotou o exercício da atividade política em paralelo ao jornalismo, tornou-se mais pragmática do que as chamadas raposas políticas dos partidos. Colunistas e editores mandam às favas o escrúpulo e colocam em prática com inédito imediatismo o ditado popular "Rei morto, rei posto". As raposas políticas têm mais compostura.
 
 
 

NÃO É SE, É QUANDO

A ofensiva dos abutres e das hienas e o “mundo-cão” da Cantanhede

 
Fernando Brito, no TIJOLAÇO
carniceiros
Que Marina Silva tem o direito de pretender ser a candidata do grupo que apoiava Eduardo Campos, não há nada a discutir.
Quanto ao direito do PSB de avaliar se alguém que entrou no partido como “carona” possa representá-lo, também não há questionamento moral possível.
A democracia se exerce, aliás, através dos partidos.
Mas a mídia brasileira, com seu já agora ostensivo apetite político, tomou a frente do processo e, como um bando de urubus, se arroga dona do corpo morto de Eduardo Campos e chama Marina Silva para ser não uma candidata a Presidente, mas a amazona dos despojos do ex-governador de Pernambuco.
O Globo “acusa” Lula e Dilma de terem telefonado ao presidente em exercício do PSB, Roberto Amaral.
Meu Deus, quem é o dirigente maior dos socialistas, na ausência de Eduardo Campos, a quem, senão a ele, deveriam dirigir, além do pesar à família Campos, as condolências e o diálogo político?
Como uma matilha de lobos, o time de colunistas políticos do jornal é mobilizado para “exigir” Marina, como se fosse papel dos jornais deliberar pelos partidos políticos que, repito, tem o direito e o poder legal de escolherem ou não a ex-senadora como seus representantes eleitorais.
Mas pior, muito pior, é o que faz, de forma indecente e mórbida, a colunista da Folha, Eliane Cantanhêde.
Dá a impressão de que saliva de prazer ao imaginar a mais mórbida exploração eleitoral do cadáver de Eduardo Campos.
“Dilma Rousseff e Aécio Neves, tremei. No rastro da comoção nacional pela morte estúpida de Eduardo Campos, apoios da família dele à sua vice serão avassaladores. O irmão, Antônio, já se manifestou publicamente. E quando a mulher, Renata, ladeada pelos cinco filhos, inclusive o bebê Miguel, lançar Marina? E quando a mãe, Ana Arraes, apadrinhar a candidatura aos prantos?”
Não é um campanha eleitoral o que quer nossa refinada e cheirosa elite.
É um programa destes de “mundo cão” da pior espécie.
Falam tanto em programa, projetos, eficiência, capacidade.
Mas, se lhes servem politicamente, às favas os escrúpulos e viva a manipulação do sentimentalismo, da dor, dos mortos.
Não se disputa a herança política de Eduardo Campos, mas o direito de poder explorar o seu fim trágico, o seu cadáver, numa campanha.
Está em jogo o destino de um país, a escolha de quem irá dirigi-lo nos próximos quatro anos.
Isso, para os cidadãos de bem.
Para outros, não é isso.
Não lhes importa quem vá para lá e que métodos se disponha a usar para isso.
Tudo o que querem é que se derrube um projeto progressista e popular, ainda que à custa de colocar qualquer um lá, com o qual, depois, se verá o que fazer.
E não vacilam, para isso, sequer, em propor a mais vil exploração da dor de uma família, inclusive de suas crianças.
A direita brasileira já teve o seu Corvo, Carlos Lacerda. Conseguiu baixar mais e agora tem abutres e hienas.
É nojento, o que mais dizer disso?

FAÇAM SUAS APOSTAS







TRAGÉDIA E DESESPERO



O declínio de Aécio e a morte trágica de Campos abriu para o mercado aquilo que seus operadores classificam como uma janela de oportunidade.




por: Saul Leblon , na Agência Carta Maior
 


A tragédia que tirou a vida de Eduardo Campos explodiu na política brasileira em vários sentidos. Mas também em nossa cabeça ao pulsar zonas involuntariamente congeladas onde hiberna a pedagogia que existe na dor.

O imponderável da história cobra penitência do menosprezo nessas horas.

Dimensão desdenhada  pela atribulação e/ou  a soberba ,  as rupturas  pessoais ou coletivas  imprimem transparência curta, mas vertiginosa,  à impostura das  miudezas  que se avocam  em pétreas balizas do presente e do futuro,  até emergir o rosto da catástrofe.

A finitude humana precisa ser abstraída para permitir sentido à existência social,  retruca  o instinto de sobrevivência.  Nesse desvão o capitalismo  naturaliza  e arrancha as leis de mercado nas formas de viver e de produzir, anestesiando  a alma e o cotidiano da sociedade.

Permuta-se  angústia existencial  por compulsão comercial.

Consumir para existir.

E vice-versa.

A circularidade  é autossustentável.

Não é a consciência que determina a vida;  a vida determina a consciência. E nela o limite do cartão de crédito é mais sagrado que o tesouro  fátuo da existência.

Diante da natureza humana  intrinsecamente cultural  o capitalismo não se contenta com menos do que ser a respiração dessa  segunda pele.

Libertá-la  da servidão seria o papel  da política, entendida como ponto de fusão entre a filosofia e a  economia, entre  a luta pela sobrevivência e a realização do potencial humano.

Para ser ruptura sem ser tragédia a política deve escancarar  nas mercadorias  que nos cercam as relações econômicas que nos aprisionam.

Nessa condição  se torna a consciência histórica da existência social  para identificar  na ‘forma fantasmagórica de uma relação entre coisas’ aquilo que, na verdade,  é uma relação social determinada entre os homens.

Ou seja, os produtos do engenho humano não tem  ‘vontade própria’, os mercados não são racionais e os seres humanos não são objetos a serem explorados uns pelos outros.

Romper o lacre do fetiche que nos circunda e subjula: essa é a emancipação que se espera da  política.

O impacto desse 13 de agosto na política brasileira ajuda a enxergar, nas breves horas que correm, o abastardamento dessa dimensão libertadora que ela deveria ter.

Em primeiro lugar, avulta a sofreguidão dos que buscam uma tapagem.

Qual? Qualquer uma desde que conjure  o risco, por modesto que seja, de um passo miúdo  em direção oposta à hegemonia ‘da coisa’ humanizada sobre os  ‘sujeitos’ coisificados  .

O mercado desabou quando soaram as primeiras informações sobre o desastre  aéreo ocorrido manhã de 4ª feira em Santos.

Não porque o ex-governador Eduardo Campos estivesse entre os mortos. Mercados não choram.

Mas pelo temor de que Marina Silva não se incluísse mais  entre os vivos.

Subiu, em seguida, quando se confirmou que a ex-ministra  teria viajado em outro avião, de carreira.

Não porque o mercado  alimente em relação a ela simpatias ideológicas ou empatias pessoais. O valor da natureza para o mercado é aquele atingido pelas commodities em Chicago.

Na nervosa preocupação manifestada com a sorte de Marina  pulsava na verdade a grande  confissão escancarada pela tragédia desta  4ª feira:  ninguém acredita  mais em Aécio no mercado.

Comprado  inicialmente  como o engate  capaz  de reconduziu os centuriões do dinheiro ao comando do Estado, o tucano depreciou-se  como um avião em pane na calculadora de seus fiadores.

Desde que derrapou no aeroporto do tio Múcio, em Claudio (MG), e não mais se levantou, deixou  evidente  sua limitação  política, moral e intelectual  para levar a bom termo o roteiro contratado.

No rescaldo da tragédia de 4ª feira, o conservadorismo em peso intima Marina a se oferecer como escada  para levar o projeto neoliberal ao segundo turno contra Dilma.

Colunistas do dispositivo conservador evocam  os astros  na tentativa de sensibilizar  o  messianismo : ‘Presidência é destino’, sentenciam sacudindo com as mãos  os ombros magros  de Marina.

Dela não se espera nada, exceto isso: ser  o suporte capaz de comboiar  os centuriões do mercado que patinavam  no chão mole escavado  por um Aécio.

Essa a dimensão de sua sobrevivência que preocupava os mercados num primeiro momento.

No mesmo dia  em que um vento traiçoeiro selava  a carreira política de Eduardo Campos, um fórum em São Paulo reunia a fina flor dos interesses que agora assediam Marina Silva a ‘cumprir o seu destino’.

Organizado por uma revista de economia, no Hote Unique,  na capital paulista, o evento que previa a participação de Campos,   teve como debatedores, entre outros, José Berenguer , presidente Banco JP Morgan;   Paulo Leme, presidente do Conselho de Administração  do Banco Goldman Sachs e  Armínio Fraga, representante de  Aécio Neves.

O consenso das intervenções  condensa a única plataforma que  de fato interessa do ponto de vista do conservadorismo.

Aquela que restaura a supremacia dos mercados  sobre os tímidos passos dados nos últimos anos em direção a uma democracia social que coordene os rumos da economia e o destino da sociedade.

A saber: tarifaço nos serviços sem compensação salarial;   câmbio livre  e arrocho fiscal; alta de juros para devolver a inflação à meta e elevar o superávit  primário.

Uma  agenda à procura de um portador eleitoralmente  capaz de leva-la ao segundo turno da disputa presidencial de outubro.

O declínio de Aécio  e a morte trágica  de Eduardo Campos abriu  para o mercado aquilo que seus operadores costumam classificar como  ‘uma janela de oportunidade’.

A janela é Marina.

A oportunidade é fazer dela o cavalo de Tróia da restauração neoliberal no Brasil.

Falta combinar com a ex-senadora que um dia foi parceira de Chico Mendes, fundadora do PT e referência da esquerda na luta ambiental.

Façam suas apostas, a roleta vai girar. E tem muito dinheiro em jogo nessa rodada.



(Extraído do CONVERSA AFIADA, de Paulo Henrique Amorim)

 





O NOVO E O VELHO CORONELISMO

O poder dissimulado no luto


Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa



O tabuleiro da política brasileira começa a se reorganizar, mesmo antes que sejam compostos os restos mortais do ex-governador Eduardo Campos para a cerimônia fúnebre. Ainda sob o efeito da tragédia e do espanto, as duas forças hegemônicas do sistema partidário fazem os primeiros movimentos para obter o máximo proveito da tragédia, sem que pareçam estar interessadas no espólio do candidato desaparecido. 
O que vai na cabeça dos políticos é parte do mistério insondável que encobre a maior das paixões humanas – o desejo de potência. Portanto, pode-se apenas fazer conjecturas sobre o propósito que se oculta nas declarações e nas iniciativas que vêm a público.
Mais simples é observar como a imprensa, na qualidade de instituição que personifica o desejo de poder de uma classe especial de cidadãos, tenta se manter como protagonista relevante nesse jogo, sem no entanto explicitar seus interesses. 
Para os dois extremos em que se divide a política nacional, a situação é clara: ao Partido dos Trabalhadores e seus aliados interessa que Marina Silva, provável substituta de Eduardo Campos na cabeça de chapa do Partido Socialista Brasileiro, continue sendo Marina Silva, o que equivale a dizer que ela tem potencial para reduzir o número de votos nulos e em branco, principalmente entre os eleitores mais jovens, e canibalizar o patrimônio do senador Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira, mas sem ameaçar as chances de Dilma Rousseff.
Para o PSDB, trata-se de usar Marina Silva para assegurar o segundo turno, com Aécio na disputa.
Dentro desse quadro aparentemente simples, porém, cruzam-se muitos e complexos elementos que os atores tentam administrar com cautela. Um deles é a própria natureza da aliança que aproximou Marina Silva e Eduardo Campos: pode-se dizer que a principal conexão entre eles é que compartilharam uma política de sonho, na hipótese de que se pode jogar sem praticar os vícios que são a própria regra do jogo. Diz o editorial doEstado de S. Paulo a edição de sexta-feira (15/8), sobre Campos, que suas qualidades não foram suficientes para infundir substância à “terceira via”.
O velho coronelismo
Vejamos, então, se é possível uma compreensão do protagonismo da mídia tradicional, como instituição coesa e homogênea que pretende manipular os cordões do poder político.
Já se disse aqui que a imprensa hegemônica do Brasil funciona como o Tea Party nos Estados Unidos, uma espécie de sociedade de forças reacionárias que tenta determinar o rumo da política e da economia, mesmo à revelia da vontade manifestada pela maioria. Diante desse tabuleiro, a imprensa precisa alavancar o potencial de Marina Silva, ao ponto de fazê-la crescer o suficiente para provocar um segundo turno, mas evitando que supere Aécio Neves.
Parte dessa tarefa consiste em acalmar as forças do mercado, evitando que pese sobre ela o temor que cercava a primeira candidatura do petista Lula da Silva, em 2002. Para isso, movimenta-se o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, autor da proposta de política econômica da chapa do PSB: ele ganha destaque por afirmar que há “uma forte convergência” entre o projeto feito para Eduardo Campos e a doutrina do PSDB.
O Globo, que não possui a mesma habilidade para dissimular os interesses de seus controladores como o Estado de S.Paulo, veterano de centenárias batalhas políticas, ou aFolha de S.Paulo, com seu ousado pragmatismo, vai direto nas canelas: “PT pressiona para rachar o PSB de Eduardo Campos”, diz a manchete do jornal carioca. O núcleo da notícia é a interpretação do jornal para conversas protocolares da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula da Silva com o dirigente do PSB, Roberto Amaral, que deverá conduzir o processo de substituição do candidato falecido na chapa de seu partido.
O interessante é que todos afirmam que não querem discutir política antes dos funerais, mas não se fala de outra coisa a não ser política. Até mesmo do núcleo familiar do falecido candidato brota material jornalístico apresentando seu filho mais velho, João Campos, como possível herdeiro político da dinastia inaugurada por Miguel Arraes, avô do ex-governador.
A foto do jovem de apenas 20 anos, imagem principal na primeira página do Estado de S. Paulo, também publicada com destaque na Folha e no Globo, é a face nova da velha política: à direita ou à esquerda, representa o poder republicano como herança familiar – o velho e confiável coronelismo.